Iniciando um passeio em Gloomywood com os filhotes...

Salve!

Na peleja contra homens-sapo na escuridão das matas de Gloomywood...

Em comemoração a um ano do blog, resolvi fazer um relato de duas sessões que tive com meus filhos presencialmente neste mês de agosto de 2025. Agradeço a todos os leitores e leitoras dessas traduções no blog, faço votos de que sigam em frente com seus jogos! Vou inaugurar uma TAG aqui, "Relato de Sessão", reunindo alguns relatos de jogos, sejam online ou presenciais, sem compromisso, porém, imagino que serão grandes, como esse. Já peço desculpas por isso e vamos lá.

Ao final do relato das sessões fiz alguns comentários por alto sobre o jogo.

Voltando aos meus filhos, fazia tempo que não jogávamos. Jogamos algumas vezes The Black Hack e D&D B/X. Então aproveitando o hiato de jogos online (e os presenciais também!), os convidei para mais uma jogatina. Dessa vez combinamos de iniciar uma mini campanha, e já que nós três não nos encontramos tanto, decidimos que as poucas vezes em que jogarmos, jogaremos esta campanha até esgotá-la (ou nos enjoarmos dela). Um bom camarada, o Megarato, me indicou o Gloomywood [será traduzido!] enquanto algo simples e rápido para jogar: um mini cenário de Gabor Lux, que imediatamente tratei de ler, onde concluí ser algo interessante para rodar com os filhotes. Atualmente minha filha tem 12 anos e meu filho 16.

O Vale de Gloomywood...

Escolhi D&D B/X para jogar com eles, através do retroclone Old School Essentials. Eles não tiveram problema com nenhuma mecânica que apareceu no jogo, conforme previsto por mim e projetado pelo próprio jogo, testado pelo tempo. Bom, talvez uma ou outra dificuldade nada incontornáveis. Criamos dois personagens para cada um dos meus filhos e eles decidiram jogar apenas com um deles e deixar o outro de reserva, caso morressem. Lembrei os filhotes de alguns conceitos básicos do jogo como alta letalidade, XP por ouro, expliquei um pouco sobre a liberdade de ação, a lógica do sandbox, e também tentei explicar que a agência era deles.

Como MJ, rodei o módulo mudando um pouco as tabelas de encontros, quantias de inimigos e tesouro, executando os procedimentos normalmente como rolagem do clima, encontros aleatórios, tempo de viagem, uso e contabilidade de munições e suprimentos, taxa de movimento baseada em peso dos PJ, etc, e improvisando em cima do material e das ações dos jogadores. Tem um spoiler do módulo nos relatos.

1ª sessão: Deixando o vilarejo de Kars para ganhar o Vale de Gloomywood...

Iniciando a jornada em busca das tais "pedras gêmeas"...

Assim, iniciamos no vilarejo de Kars à beira do Castelo Marstein, após uma breve contextualização da região, da situação atual (onde o Conde Soberano, residente do Castelo Marstein, adoeceu, e seu Senescal passou a governar "provisoriamente" Gloomywood, aumentando bastante a opressão na região e dando uma atmosfera tristonha ao lugar), e da rolagem de alguns rumores conhecidos pelos personagens, que são jovens que decidiram se aventurar pelo condado, tendo a vila como base de operações (no caso, as casas de seus pais...). Nota que os personagens não eram irmãos no jogo, minha filha jogou com a ladra Sentler e meu filho com o guerreiro Gabriel, ambos de 1º nível.

A dupla deixou Kars numa manhã nublada, após tempos de preparação, e foram em busca de umas tais "pedras gêmeas" que proporcionam a "iluminação" (conhecimento obtido através dos rumores rolados), aproveitando para mapear toda a região por onde passassem. Durante a jornada pelas trilhas de Gloomywood, um vale tomado por florestas numa região montanhosa, acabaram encontrando a uma certa distância da trilha, na mata, o que parecia ser um muro, ou uma estrutura com a entrada murada. A dupla deixou a trilha para investigar, onde realmente encontraram uma pequena estrutura com a entrada murada, uma parede de alvenaria erguida, bloqueando-a. Sem pensar muito, analisaram os arredores, e sem encontrar nenhuma pista, decidiram derrubar a parede. Utilizando as ferramentas adequadas começaram a demolir o muro, porém o ruído atraiu um lobo da floresta, faminto e agressivo, que a dupla teve de dar cabo antes de concluir a tarefa.

Lidando com o lobo selvagem faminto diante da parede de alvenaria que bloqueava a entrada para a pequena estrutura na mata...

Após demolirem a parede, notaram que ali dentro estava um pequeno aposento, com um cadáver aprisionado ao fundo por correntes atadas às paredes, e pilhas de esqueletos. Assim que Sentler adentrou o local, uma maldição retirou suas forças enquanto o cadáver e os ossos foram animados por feitiçaria, e logo um zumbi aprisionado e dois esqueletos tentaram atacar a dupla, que também conseguiu se livrar dos mortos-vivos apesar de alguns ferimentos e dor de cabeça. Depois do susto, vasculharam o local encontrando pequenas gemas de âmbar junto ao cadáver aprisionado, e então decidiram voltar para o vilarejo de Kars, para se curar e avaliar seu primeiro tesouro saqueado. Também tiveram de usar o ouro conquistado para remover a maldição de Sentler.

Na jornada de volta algo inusitado aconteceu: encontraram um goblin ferido e em fuga, e decidiram ajudá-lo, dando-lhe água, comida, e proteção. Logo se afeiçoaram à criatura e convenceram-na a associar-se a eles, levando-a de volta para a vila de Kars.

Para entrar no vilarejo, colocaram o goblin Juliânus dentro de um saco, e o esconderam no quarto de Gabriel, na casa de seus pais... Em Kars, venderam as pedras preciosas e conseguiram um bom dinheiro. Descansaram o necessário para se recuperar dos ferimentos, adquiriram mais suprimentos e equipamentos, trancaram seu tesouro num quarto da casa dos pais de Gabriel... E retornaram para as matas, para o mesmo caminho, avançando pela mesma trilha que estavam seguindo.

Contabilizando.. Sim: adeptos do book-keeping, rs...

Adiante acabaram encontrando um acampamento de ciganos à beira da trilha que seguia em frente, junto a um desdobramento que dava origem a uma outra trilha, que seguia numa outra direção, a norte, contornando o grande Lago Espelhado, o Zrkadlové.

Terminamos a sessão ali, dispostos a dar sequência no outro dia.

Terminamos a sessão aqui, no acampamento dos ciganos injustiçados...

2ª sessão: Entregando os planos para o Lobo+Demônio…

No início da segunda sessão, a dupla (e seu goblin) decidiu acampar junto aos ciganos, onde foram acolhidos. Durante a estadia adquiriram algumas informações, como a de que alguns ciganos foram feitos prisioneiros pelo Senescal no Castelo Marstein, e de que a cigana Rosina foi covardemente assassinada pelos homens do Senescal após ela se recusar a ler a sorte dele em relação a descobrir quem deseja matá-lo. Os ciganos informaram à dupla que é esse sentimento de revolta que os impede de deixar Gloomywood...

A dupla se solidarizou com os ciganos e decidiu encontrar os restos mortais de Rosina após algumas informações recolhidas. Durante o acampamento, a dupla acabou contando com o ingresso de um terceiro membro, o clérigo Lômion [meus filhos gostaram de ideia de reforçar o grupo com um outro personagem criado por mim, controlado por meu filho]. Agora formaram um trio, ou melhor, um quarteto contando com seu querido goblin.

Seguindo as orientações adquiridas sobre o assassinato da cigana Rosina, avançaram pela trilha principal por algumas horas até encontrar uma encruzilhada onde há um ponto de execução do Senescal: forcas, que inclusive contava com o cadáver de um pobre coitado, pendurado. Então o quarteto passou a escavar freneticamente toda a área, até encontrar o cadáver da cigana em meio a vários buracos escavados por longas horas de trabalho. Assim, prontamente retornaram ao acampamento cigano levando o cadáver de volta.

Fizeram a jornada sem grandes perigos até chegar ao acampamento, onde foram recebidos num misto de gratidão, comoção, revolta e alegria... O restante do dia, noite e madrugada, foi dedicado aos ritos fúnebres e confraternizações, dedicados à memória de Rosina e à revolta dos ciganos... Durante a noite o trio de aventureiros não deixou de expressar sua insatisfação com as posturas do Senescal e disse estar disposto a dar um fim nisso, onde os ciganos demonstraram propensão a ajudar numa ação nesse sentido, num futuro breve, caso o trio apresentasse um plano de ação sólido e mais aliados dispostos... Assim, o trio mais seu goblin, prepararam-se para partir na manhã seguinte.

Resolveram pegar a nova trilha que brotava da trilha principal, pois ali era o caminho indicado para onde desejavam ir, as tais "pedras gêmeas", para o norte, contornando o grande Lago Espelhado, o Zrkadlové. E assim, rumaram pela mata ao norte, debaixo de um dia ensolarado, avistando o lago ao longe, contornando-o.

Foi quando após horas de marcha, num certo ponto da trilha, bloqueando-a, adiante estava parada uma matilha de lobos negros, junto a um grande lobo atroz, que nitidamente os liderava. Parecia que a matilha estava a esperá-los, e foi estranho quando o lobo gigante os chamou numa voz gutural, para que o quarteto se aproximasse, o que fizeram mas sem chegar muito perto. E ali passaram a conversar na mata, falando alto devido à distância, sobre a identidade e as ações de cada um, sobre a região e sobre o que estavam em busca. Foi quando o grupo, como um peixe, morreu pela boca: empolgados com os planos de derrubada do Senescal e procurando encontrar aliados nesse sentido, acabaram revelando ao lobo gigante tal intenção e o convidaram para participar dos planos, ao que o lobo demônio logo aceitou...

Nesse momento fiquei com pena dos meus filhos, pois, spoiler: mal sabem eles que o lobo demônio trabalha com o Senescal (eles não leem este blog, rs)... Bom, combustível para a campanha...

O lobo também disse que ajudaria a derrubar o Senescal após o trio resolver uma questão para ele: disse haver um local contendo menires ritualísticos nas colinas da mata a nordeste dali, e que "recentemente ele foi tomado por criaturas vis". Para testar a palavra do quarteto, o lobo pediu que as criaturas ocupantes da área dos menires fossem expulsas. Interessados na associação com a aparentemente poderosa e sagaz criatura, os aventureiros aceitaram a tarefa e passaram a rumar em direção aos tais menires, jornada que fizeram em alguma horas.

No local constataram que o lobo parecia dizer a verdade, e puderam observar homens-lagarto rondando e vigiando o agrupamento de rochas ritualísticas [aqui eu troquei os lagartos gigantes do módulo por homens-lagarto, ainda não sei ao certo o que eles estão fazendo ali]. Intimidados com as criaturas e com sorte por não terem sido vistos, decidiram retornar ao vilarejo de Kars a fim de contratar alguns capangas para ajudar na tarefa de expulsar os homens-lagarto que ocupam o lugar. Então começaram a marchar de volta para casa.

Dando umas voltas a nordeste do Lago Espelhado, o Grande Zrkadlové...

Durante uma noite de acampamento na jornada de volta para Kars, foram verificar estranhos ruídos na mata, onde acabaram topando com um bando de cinco homens-sapo que reagiu agressivamente à iluminação e aproximação do grupo. Um combate estourou em meio à mata noturna, numa área acidentada cheia de pequenas colinas, subidas e descidas. Derrotaram as criaturas com dificuldade, bastante feridos e após a morte do goblin Juliânus. Conseguiram inclusive um saque das criaturas errantes [determinei 1:6 chances de haver tesouro com os monstros errantes, e rolamos 1. Fui generoso com o tesouro: rolei e aumentei o resultado]. Bem machucados, marcharam às pressas para o acampamento dos ciganos.

Ainda na jornada de volta toparam com três cadáveres ambulantes de aldeões executados pelo Senescal, perambulando pela trilha. O clérigo, a ladra e o guerreiros, alguns feridos, conseguiram lidar com esses zumbis também.

Saíram do acampamento para verificar alguns ruídos e toparam com homens-sapo zangados... O goblin do grupo morreu e os demais aventureiros ficaram bastante feridos... Encontraram pedras preciosas e moedas com as criaturas, e assim, começaram a voltar para casa...

Chegando ao acampamento, passaram dias com os ciganos, desfrutando de sua convivência e descansando, também ajudando a repelir alguns poucos ataques ocasionais de criaturas da mata (ou descidas das montanhas...), incluindo alguns orcs. Assim que se recuperaram iniciaram a jornada de volta à sua base de operações no vilarejo de Kars: as casas dos pais de Gabriel e Surtlen...

Durante a jornada de volta, que basicamente consistia em seguir a trilha, também toparam com outra criatura maldosa, e assim, o trio de aventureiros teve de lutar contra um grande bugbear com o comportamento furiosamente alterado.

Não tiveram grandes problemas com o bugbear... Ele tinha comido fungos estranhos da floresta...

Retornaram a Kars, avaliaram seus tesouros e se recolheram meditando em suas experiências recentes, planejando os próximos passos: contratar pessoas dispostas a marchar até os menires nas colinas arborizadas a nordeste do Lago Zrkadlové e dar cabo dos homens-lagarto que ocupam a área, buscando obter a confiança do lobo demônio....

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O que mapearam de Gloomywood...

Comentários

Adorei jogar com meus filhos. Na verdade foi a primeira vez que jogamos desde que eles estão com essa idade (12 e 16, indo para os 13 e 17). Foi muito diferente de todas as outras {nem tantas} vezes que jogamos, e definitivamente foi a primeira vez que tivemos uma experiência real mais próxima do jogo clássico de aventura e fantasia.

Eles assimilaram bem a proposta, principalmente o mais velho: mapear os entornos da vila, buscar informações, recolher tesouro, sobreviver, interagir com os elementos do mundo de jogo, decidir o próprio rumo a partir das informações adquiridas, gerenciar recursos, etc. Na verdade eu acho que eles jogaram com bastante desenvoltura em relação ao que eu estava esperando. Mas também eles se demoraram para tomar algumas decisões certas vezes, naturalmente. O ritmo de jogo foi satisfatório dentro do contexto, alternando momentos mais estanques com outros mais dinâmicos, entre brincadeiras e dispersões. Eles basicamente seguiram as trilhas do mapa e interagiram com o que estava em torno delas, porém foram mudando a agenda conforme jogavam: começaram em busca das pedras gêmeas, fizeram um acordo com os ciganos envolvendo derrubar o Senescal e libertar prisioneiros, e agora querem adquirir uma aliança com o lobo demônio (para derrubar o Senescal...) fazendo-lhe um favor envolvendo um local ritualístico. E por aí vai...

O fato de seus planos estarem entregues de mão beijada ao lobo demônio dará uma boa oportunidade para situações, roleplay, decisões e possibilidades interessantes. 

Jogamos duas sessões depois de criarmos personagens anteriormente: uma de 4 horas, e outra de 6 horas ao todo (que contou com um intervalo no meio). Acho que até avançaram bem, mas claro que um grupo maior e mais experiente de jogadores consegue explorar mais do cenário nesse tempo.

Usamos as regras de carga do Old School Essentials em que a mochila contendo equipamentos pesa 80 moedas e são contabilizados apenas o peso das armas, armaduras e tesouro. Eu aumentei a escala do mapa do módulo original e também aumentei o valor dos tesouros encontrados, onde ao final de duas longas sessões, os três personagens (ladra Sentler, guerreiro Gabriel, clérigo Lômion)  controlados pelo jogador e pela jogadora passaram para o nível 2 (fui deliberadamente generoso com o XP. Realizaram dois saques de valor considerável, mais XP de sobrevivência e exploração de hex que concedo, além de XP por bons feitos como o de retornar os restos mortais da cigana para ser devidamente enterrado entre os seus, etc, uma espécie de 'XP por missão', argh). Também mudei alguns encontros: tanto a quantidade de criaturas encontradas nas tabelas aleatórias, quanto o próprio conteúdo delas. Eu não queria uma experiência totalmente crua e brutal quanto a proposta original: interferi (bem pouco) nos desafios e recompensas, até porque foram apenas dois jogadores, uma quantidade de PJs limitada, que acredito exigir alguns ajustes para o jogo ficar... Jogável. Os dados foram rolados abertamente, com exceção de algumas habilidades da ladra (onde eu mostrava o resultado depois das resoluções das ações).

Enfim, foi uma boa brincadeira de feriado, eles gostaram bastante apesar de declarar que tiveram algumas dificuldades para entender uma ou outra coisa, além da própria dinâmica geral, alguns momentos se entediaram, mas finalizamos as duas sessões com saldo positivo. Eles estavam com uma noção clara de tudo o que aconteceu de maneira geral dentro do jogo e do que gostariam de fazer ali. Já definiram que querem jogar o máximo possível enquanto desejarem dessa campanha. Achei extremamente válido e fiquei muito contente.

Vida longa ao D&D Clássico!

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