terça-feira, 10 de junho de 2025

Dungeons & Dragons AVANÇADO

(Tradução, com permissão do autor, do texto presente em [1], publicado em maio de 2019)

Neste texto de 2019, Jonathan Becker comenta um pouco sobre sua vontade de voltar-se para o AD&D1e: um grande apreciador do D&D B/X (o histórico de seu blog e de seus produtos nos demonstram isso), que desde então tem-se dedicado à primeira edição. Neste texto ele destaca a questão da assimetria presente no sistema de regras como algo positivo, o que consideramos um ponto de vista interessante e importante para a compreensão do jogo...

Comecei um post há alguns dias intitulado "Crescendo" que rapidamente se transformou em um desabafo melancólico sobre meus filhos e a Liga Infantil de beisebol que... Bem, foi um desastre total. Vamos ver se consigo ser um pouco mais direto:

Tenho pensado muito sobre AD&D ultimamente... O sistema que joguei durante a maior parte da minha juventude e que eventualmente abandonei completamente em favor do B/X. Os motivos para deixá-lo foram muitos, e não vou me preocupar em enumerá-los aqui... Todo este blog pode ser considerado um registro dos “porquês” se você olhar para os ensaios que escrevi exaltando as virtudes do sistema B/X e comparar como essas virtudes contrastam com o AD&D mais detalhado.

[ah, sim... provavelmente devo apontar que estou falando do AD&D original aqui, ou seja, da primeira edição, não da 2E ou qualquer coisa que veio depois]

Mas as ideias encontradas no AD&D continuam invadindo minha consciência. Elas me incomodam. Cheguei à conclusão, por exemplo, de que, entre todos os sistemas, eu prefiro a progressão de aquisição de magias do B/X para usuários de magia como sendo A MELHOR de todas (e comparei todas as edições extensivamente), com uma única ressalva: eu daria uma ou duas magias bônus para pontuações altas de Inteligência.

[desculpe... isso é algo que venho querendo postar e explicar meus motivos, mas simplesmente não tive tempo para fazer isso]

E ainda assim, o B/X como foi escrito não trata de formas mais elevadas de magia, algumas das quais eu gosto muito (magias como cacodemon e gate, por exemplo). E ele deixa de fora algumas magias mais “saborosas” encontradas no AD&D, como burning hands, rope trick e Leomund’s secret chest. Sim, você pode importar esse tipo de conteúdo para o seu jogo B/X, mas isso destrói um pouco da simetria encontrada no sistema B/X original.

A questão é: eu GOSTO... eu realmente gosto... de assimetria em Dungeons & Dragons. Já escrevi sobre isso antes também: gosto das formas como D&D falha em se equilibrar. Gosto que os ladrões usem uma mecânica de sistema completamente diferente dos clérigos, que têm uma mecânica completamente diferente dos magos, que são completamente desequilibrados e diferentes dos guerreiros... E como as habilidades e estatísticas dos personagens jogadores são diferentes das dos NPCs e monstros do jogo. Eu gosto disso, isso torna o jogo interessante, torna os sistemas desafiadores, e trabalhar com esses sistemas é um quebra-cabeça tanto para o Mestre de Jogo (MJ) quanto para os jogadores. Se eu quisesse jogar um jogo perfeitamente equilibrado em termos de design, eu usaria algo como GURPS ou o sistema HERO. Todas as tentativas das edições posteriores de equilibrar os tipos de personagens entre si (dando magias "à vontade" para magos, dando feitos similares a magias para guerreiros, etc.) só serviram para eliminar essa assimetria... e criar um jogo menos interessante.

O B/X como foi escrito deixa um POTENCIAL ENORME em aberto para o seu jogo, mas também destrói um pouco da assimetria original do jogo de D&D. Fixar o nível 9 como “nível de renome” [name level] para todas as classes, o aumento dos limites de nível para semi-humanos (para 12, 10 e 8), a redução nas magias dos usuários de magia... Essas coisas vão longe no sentido de equilibrar as classes... Ao menos em um jogo que vai só até o nível 14 (ignorando todos os livros “Companion”). E isso é PERFEITO para um joguinho de aventura fantástica. Poxa, é lindo, elegante e completamente gerenciável, o que é algo que eu teria dificuldade em dizer sobre praticamente qualquer outra edição de D&D.

Mas a vida real não é tão bonitinha e arrumada assim. A vida real é cheia de inconsistências confusas. A vida real é praticamente impossível de administrar... Eu tenho dificuldade para gerenciá-la, e sou um cara razoavelmente inteligente, abençoado com tantas vantagens reais que eu não deveria ter motivo algum para reclamar ou ficar mal-humorado. Droga, eu dirijo um carro com rádio via satélite e sistemas ativados por voz, e AINDA assim encontro motivos para reclamar! Quão ridículo é isso?!

É difícil administrar a vida real (mesmo quando deveria ser fácil para alguns de nós); ela é desafiadora porque é bagunçada e complicada e cheia de seres humanos igualmente bagunçados e complicados. E embora joguemos D&D, em parte, para escapar dessa realidade complexa e confusa, se deixarmos o jogo simples, elegante e enxuto, talvez estejamos nos privando de uma forma ainda mais profunda de jogo de fantasia. Ainda estamos jogando no "modo fácil", quando poderíamos estar jogando algo que nos desafiasse mais intensamente, nos proporcionando uma experiência mais forte, uma fuga de fantasia mais intensa.

Digo “nós”, mas quero dizer “eu”.

Coisas que antes eu sentia que talvez "complicavam desnecessariamente" o jogo de D&D... Coisas como tempo e envelhecimento, carga e peso, doenças e enfermidades, exigências de treinamento, clima (e seus efeitos), ou uma economia “viva”... Essas coisas têm o potencial de tornar a experiência de jogo mais rica. Elas também tornam o jogo mais difícil de jogar e muito mais difícil de administrar. Isso não é Dungeons & Dragons na sua forma de Liga Infantil... Isso é ADVANCED Dungeons & Dragons.

Faz muito, muito tempo desde a última vez que joguei D&D “avançado”.

Nem acho que a 3ª edição, com toda a sua minúcia de regras extras, realmente conte como uma versão “avançada” do jogo. A maioria de suas regras extras... Na verdade, a maioria de suas regras em geral... Diz respeito única e exclusivamente ao combate. A 3E simplificou boa parte do jogo em si para rolagens de D20 contra números-alvo usando modificadores... Muitas vezes desajeitado e complicado de aplicar na prática (especialmente em níveis altos), mas simples o bastante para entender. A 4E e a 5E simplificaram ainda mais o jogo. Já escrevi longamente sobre como o Livro do Mestre da 5E é basicamente enchimento, com páginas e mais páginas de tabelas para gerar "ideias" aleatórias para um MJ (presumidamente novato), mas com muito pouca informação sobre como lidar com o desafio confuso e assimétrico que o jogo pode ser. A Wizards of the Coast acertou ao remover o termo "Advanced" do título do jogo... Vejo muito pouco na era pós-TSR que eu consideraria um conceito “avançado”.

Sinto que quero voltar a jogar Advanced Dungeons & Dragons. Não o AD&D “ao pé da letra” [BTB, by the book]; já fiz isso antes... Fiz por anos, usando fatores de velocidade, tempos de conjuração, regras sobre uso de elmos e todas as minúcias diversas. Boa parte daquelas seções dos livros do AD&D não ajuda em nada a criar um jogo melhor. Mas outras partes... As partes que expandem os conceitos encontrados no B/X, as que elaboram o escopo e a profundidade da campanha de fantasia... Essas são as partes que quero incorporar ao meu jogo. Acho que já evoluí além do jogo que me foi apresentado quando criança.

Quero ficar bagunçado de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário