Oh, rapaz. Por onde começar?
Recentemente, há muitos posts de “autoavaliação” pipocando pela blogosfera: pessoas celebrando seus 5, 10 ou 20 anos blogando (e onde estiveram e como as coisas mudaram) e frequentemente incluindo avaliações da “OSR”, especificamente onde o “movimento” está, como evoluiu e reflexões/opiniões sobre seu desenvolvimento.
Eu não escrevo muito sobre a OSR… desde 2013 tenho menos de uma dúzia de posts com esse rótulo (e antes disso, a maioria dos meus posts sobre OSR eram resenhas de “coisas” produzidas por pessoas que se identificavam como parte da comunidade OSR), então tem sido interessante observar sobre o que o pessoal está falando. Especialmente porque tem havido mais do que um pouco de discussão sobre como a OSR se fragmentou em vários grupos ou “facções”.
Para mim, vejo isso menos como algum tipo de cisma e mais como uma simples Balcanização padrão… nós (isto é, a “comunidade de jogadores de D&D”) nunca realmente fomos uma “unidade” de qualquer tipo. A única coisa que realmente compartilhávamos era um pedaço particular da geografia do mundo dos jogos de mesa… o pedaço mais interessado em Dungeons & Dragons e em seu pseudo-gênero específico de jogos de fantasia e aventura. Mas sempre tivemos políticas diferentes, estéticas de design diferentes, estilos de jogo diferentes e objetivos de jogo diferentes. Sempre tivemos diferentes níveis de conforto tanto em relação à complexidade do jogo quanto ao conteúdo abordado (e esses níveis de conforto, individualmente, flutuam com o tempo!) e alguns são simplesmente incompatíveis entre si. Antes de existir o The Black Hack RPG, já havia pessoas cortando grandes partes das regras do seu jogo, e esse estilo de jogo sempre foi antitético e insatisfatório para alguns outros. A mesma linha de “sempre” pode ser traçada entre aqueles de inclinação mais artística e os designers mais convencionais.
Estamos apenas (re)afirmando nossa independência como indivíduos. Ninguém gosta de ser rotulado.
Recentemente, deadtreenoshelter cunhou o termo “fundamentalistas do D&D” para o grupo oposto aos chamados “art-punks” [2], um termo que acho excepcionalmente engraçado, especialmente porque fui colocado nesse grupo. Com relação à religião, fundamentalismo é a adesão estrita à interpretação literal das escrituras… um conceito que certamente pode ser aplicado a qualquer defensor do D&D “By The Book” ou “Rules As Written” [BTB, RAW; seguir o jogo com diz o livro; usar regras como estão escritas]. Mas eu geralmente sou alguém que questiona regras… ou, ao menos, experimenta com elas… a fim de obter percepção e compreensão do jogo. Se tenho tendências fundamentalistas (com certeza não sou um fundamentalista), é apenas porque já percorri o caminho do herege… e o achei carente de uma forma ou de outra.
O que é muito mais estranho para mim, porém, é essa maneira peculiar como o jogo D&D parece estar se desenvolvendo, como evidenciado pelos produtos sendo produzidos, tanto dentro do grupo DIY (o grupo que comumente se chama de “OSR”) quanto entre os seguidores da bandeira da marca principal, ou seja, a “5E”. Sendo honesto: até recentemente, eu não estava prestando muita atenção a nenhum desses grupos… provavelmente por ser um adulto bastante ocupado, além de um contemplador narcisista do próprio umbigo. Mas parece haver algo muito diferente acontecendo agora, e já vi mais de uma pessoa comentando sobre isso, mais recentemente nos comentários desta resenha de aventura lá no tenfootpole:
Bryce escreveu:
Sim, eu entendo que este é um estilo de jogo diferente. Não entendo o apelo, mas reconheço que é o estilo de jogo dominante hoje, e tem sido por bastante tempo.
Enquanto GusL escreveu:
Parece-me que o zeitgeist de 5E vai um pouco além de algo baseado em trama ou localização. Ravenloft é claramente melhor que Curse of Strahd, mas a 5E mudou desde que ela saiu. Quando olho para coisas contemporâneas de 5E, parece algo completamente novo.
GusL fez muita análise respeitável de aventuras e (na minha opinião) é um tipo de “apologista da 5E” (isto é, ele realmente tenta dar à 5E o máximo de benefício da dúvida, apesar de ter as sensibilidades mais cascudas de um verdadeiro grognard [3]). Sendo assim, tendo a confiar em suas impressões nesse assunto… afinal, ele lê muito mais material de 5E do que eu.
No entanto, NÃO é apenas o material de 5E… houve algumas mudanças de paradigma também no material indie/DIY (embora eu dê pouca atenção ao Ennie Awards, é impossível ignorá-los como uma régua do que é popular e “tendência” em um dado momento; as ofertas “OSR” dos últimos anos ilustram). Embora seja fácil descartar as produções “artpunk” como mais estilo do que substância, acho que há bastante a se aprender com o efeito e o impacto que tais obras têm na indústria de publicações independentes… na medida em que ela existe… E os possíveis motivos para seu aumento de popularidade.
As pessoas esqueceram como se joga Dungeons & Dragons?
Isso não é para ser retórico! Porém, a melhor pergunta talvez seja: a comunidade de D&D ainda está jogando D&D, isto é, algo reconhecível como o jogo D&D?
Sinto que já fiz perguntas semelhantes no passado (embora provavelmente estivesse sendo sarcástico). Veja, independentemente da versão de D&D que seja a favorita de uma pessoa, sempre houve alguns “pressupostos” sobre o que acontece à mesa (virtual ou não). De cabeça, eu diria que os elementos usuais incluem:
- Um grupo de jogadores trabalhando juntos (um grupo de aventureiros)…
- Para superar desafios perigosos…
- Criados e controlados por um árbitro (o Mestre de Jogo)…
- Usando um conjunto específico de regras de jogo (mecânicas, sistema).
Há, claro, outros "elementos usuais": monstros inumanos, itens mágicos, masmorras, tesouro, etc. Mas a presença desses tropos varia de mesa para mesa (alguns MJs preferem antagonistas humanos, alguns preferem menos magia, alguns fazem pouco uso de masmorras, e alguns ligam pouco para tesouro). Mas esses quatro pontos são bem específicos para “jogos de aventura fantástica” [4] ao estilo do D&D.
E, no entanto, esses elementos principais parecem estar mudando. Há pouco perigo ou desafio. Os jogadores são encarregados de criar seu próprio drama e conflito. Regras são habitualmente ignoradas, descartadas ou subordinadas aos caprichos dos indivíduos na mesa.
Parece um pouco como se D&D fosse menos um jogo a ser jogado e mais um... um... hmm. Bem, não sei exatamente como chamar isso. “Algo para fazer”, suponho. Em vez de ler um livro ou assistir TV. Ainda é uma forma de brincadeira… mas cada vez menos um jogo. Certamente não o mesmo jogo que já foi.
E o engraçado é que, para muitas (a maioria das?) pessoas, não acho que isso seja uma mudança de paradigma intencional. É uma infinidade de fatores somando-se, junto de uma falta de compreensão sobre o jogo e como ele funciona. Ou, pelo menos, como o jogo funcionava antigamente.
E acho que um pouco do “conhecimento” que está sendo divulgado por aí atualmente… especialmente parte do conhecimento que afirma “o que é o Old School”… é desviado, grosseiramente errado ou nada útil. Deus abençoe essas pessoas com seu novo “Old School Primer”, mas li o documento e é apenas um enorme monte fumegante de bobagem.
Acho (*suspiro* ranzinza) que estou um tanto cansado de indivíduos que começaram a jogar D&D nos últimos 20 anos me dizendo como e o que é o D&D “old school”… ou mesmo o que QUALQUER tipo de D&D é. Mas, quando você tenta corrigir a ignorância de alguém, a pessoa só manda você se ferrar porque, você sabe, é só uma opinião e você está dizendo que a versão específica de diversão dela é ruim-errada-burra. Por favor, nos deixem NÃO ser pregados [por sermões, pregações].
Ou ensinados. Ou educados. Ou iluminados.
Há dois dias foi o aniversário do meu irmão (maluco). Parece apropriado que no mesmo dia eu tenha esbarrado nesse post (maluco) afirmando que a 5E é essa versão maravilhosa de D&D que só recentemente foi vilanizada depois de ter sido inicialmente aclamada como um retorno ao “old school” e que todos nós temos memórias muito curtas.
Obviamente, ele não leu minhas postagens sobre a 5E de 2013–2015.
Mas muito do que “Dwiz” lista em seu post sobre tendências no design Old School não é impreciso… é EXTREMAMENTE preciso. São apenas, em sua maioria, tendências ruins ou mal compreendidas que têm sido tão prejudiciais ao desenvolvimento da cena DIY (“OSR”) quanto foram para a 5E (“Novo D&D”).
Isso é algo sobre o qual quero escrever nos próximos dias… conforme meu tempo permitir. Espero que esteja tudo bem para vocês.
; )
∞ BlackRazor ∞
∴
1. https://bxblackrazor.blogspot.com/2021/09/fundamental-d.html
2. https://dustdigger.blogspot.com/2024/09/sobre-o-no-artpunk.html
3. https://dustdigger.blogspot.com/2025/06/o-que-e-um-grognard.html
4. https://dustdigger.blogspot.com/2024/09/ordem-de-leitura-dos-textos-do-cag.html
* Este texto faz parte de uma sequência que pode ser conferida aqui.

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